quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Amadores - Diário de bordo - 7º ensaio (29/09)

Por Ana Luísa Patusca

Quando entro aqui parece que esqueço de tudo o que está lá fora, parece não, por um momento esqueço de tudo mesmo. O exercício de respiração me deixa tonta, mas ao mesmo tempo me faz criar uma consciência do meu próprio corpo, uma consciência agradável, o aquecimento é mais que físico, é um aquecimento do todo. Eu sinto minha respiração diafragmática, sinto meu corpo tremer, sinto meus poros se dilatando, e o suor não me incomoda, pelo contrário, me dá prazer.

Hoje foi um dos melhores encontros que tivemos, curiosamente metade do grupo não estava, algo desanimador, mas a forma como tudo foi conduzido... Foi instigante.

Eu e Giovana fizemos um exercício no qual eu era uma boneca inerte e ela manipulava a mim, depois ela era a boneca e eu a manipulava, foi uma sensação gostosa, mas o grande quê do exercício, não estava no jogo de poder entre ora manipular, ora ser manipulada, o cerne de tudo girava em torno de se criar uma relação de confiança, de entrega mútua, de recíproca doação; aliás, todos os exercícios que fizemos em dupla hoje (eu e Giovana) tocava essa questão, a finalidade era o ato de executar em si, em conjunto, o fazer, não o finalizar, tudo em consonância: corpo, olhar, respiração e contato físico.

Quando tocamos o texto estávamos diferentes, pelo menos eu me senti assim... Quente! Receptiva! Envolvida com a Carlota de uma forma diferente, incomodada com os incômodos dela, angustiada com as angústias dela...

O próximo ensaio é só sábado a tarde, queria que fosse amanhã, gosto das manhãs, de ensaiar de manhã, é uma energia limpa, o dia está começando.

Sinto-me viva! Quando entro naquela sala escura esqueço de tudo o que me dói, meus tormentos são outros, minhas obsessões são outras. Saí do ensaio mais leve, sorri para o Fernando e disse: Tô tão feliz...

E de fato estou.

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Amadores - Diário de bordo - 6º ensaio (20/09)

Por Luiz Fernando Vaz

Impossibilitados de usar a sala de ensaio adequadamente tivemos um excelente ensaio de mesa. Mas lemos apenas uma cena. Interrompi o ensaio pra desfazer um equívoco dos atores: as personagens estão sendo tratados como objetos distantes, como gélidos e impassíveis diálogos. Todo tipo de julgamento vêm cedo demais sobre cada um deles: uma é "sem sal", outra é "boba"

Ora... Não é esse o nosso trabalho como artistas de teatro dar vida? Mas como dar vida se não se permitimos, nem por um instante a se colocar o lugar daquelas pobres e ridículas personagens? Não é julgando elas como se fôssemos super-homens e super-mulheres que vamos chegar a emocionar a platéia; muito menos a provocar nelas a identificação e a reflexão pelo senso do ridículo! A quem cabe o julgamento das personagens? Como a platéia vai julgar, ou falando menos juridicamente, como vai poder reagir a personagens que desde o início são vistos por nós de forma bidimensional - maus de um lado, bons de outro -, sem um pingo das nuances ricas em qualquer ser humano na face deste planeta? Não que a reação ao arquétipo seja inválida, mas com certeza "Amadores" não é uma peça pedagógica Ridendo Castigat Mores clássica...

O texto do Pedro não apresenta tipos humanos clássicos e facilmente identificáveis, arquétipos. Não há putas, nem bandidos, nem heróis, nem mocinhos. Pode parecer, mas não há... Gostaria que olhássemos para eles mais de perto, bem de perto mesmo e víssemos que por trás da banalidade da existência de cada um deles há toda aquela complexidade narcisista que conferimos a cada um de nós: a encantadoramente sublime e a nobremente ridícula - no mínimo! Ao falar de nós mesmos, mesmo intimamente, em nossas justificativas interiores, não economizamos elogios; por que não elogiar os personagens? Por que não dar razão a eles com a mesma obsessão e teimosia com que damos a nós próprios? Por que não defender apaixonadamente seus pontos de vista, seus sonhos, seus desejos insanos e seus indeletáveis e inegociáveis defeitos?

Acredito que só mostrando personagens tão tridimensionais e transcendentes como nós mesmos é que podemos alcançar aquilo que se convém dizer "naturalismo". Mas para mostrar alguma coisa é preciso primeiro que ela exista - de preferência inteira e plenamente. Depois, quem sabe, podemos olhar pra trás para dizer: "Que monstro que eu criei!". Mas para isso é preciso COMETER monstruosidades: pecar, equivocar-se, padecer e se danar como AÇÃO DRAMÁTICA. Não é essa a grande graça e delícia de ser um hypocrita, um ator? "É preciso marcar a intimidade", mas como? Com frieza e distância? Com lupas de laboratório?

"Para o ator, doar-se é tudo. E para doar-se, é preciso antes possuir-se.", aprendemos tb na leitura excelente que fizemos deste texto de Jacques Copeau.

Espero que os atores que encararam esse desafio, LITERALMENTE, se desarmem. A arrogância típica de nossa raça naturalmente predisposta a canastrice - que é a de julgar o mundo inteiro - já não nos basta. O texto de Pedro é só um pedaço de papel inútil e sem chance de defesa quanto às nossas críticas e moralismos cafonas ou modernosos. Mas este mesmo texto deixa de ser inútil e passa a ser vivo quando estamos na posição de encará-lo como se encara um inimigo longamente esperado. Um inimigo feito de sangue, ossos, nervos e pele eriçada. Um inimigo perigoso e mortal. Um inimigo do qual não devemos escapar pois a recompensa da nossa vitória nesse combate é a verdade no palco. No mínimo, algo que chegue perto disso.
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quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Amadores - Diário de Bordo - 5º ensaio(14/09)

Por Ana Luíza Patusca

A leitura teve início às 20:15. Conhecemos dois novos integrantes (ver nota 1), o Willian, que faz Escola de Teatro e o Ricardo Tomaz. Willian leu o Válter e Ricardo o Guilherme. O Ronnie não pôde comparecer por causa de compromissos profissionais. E a Giovanna chegou quando a leitura já havia iniciado - isso porque ela saiu correndo da ETDUFPA (do grupo universitário). Hoje fizemos leitura de mesa. Gostei dos novos integrantes (ver nota 1) e já me sinto um pouco mais familiarizada com a Carlota. A personagem parece ser mais naturalista que as outras que já são por demais. É um desafio. Com todo esse corre-corre, ainda sim, conseguimos marcar os cinco próximos encontros. Estou muito feliz de ver tudo acontecer. Cada leitura é uma nova experiência. O proceso é muito empolgante e a equipe é muito apaixonada. Queremos estar ali. Queremos desvendar cada pedacinho do texto.

(1) Prefiro dizer que são postulantes - ou navegantes. Ricardo Tomaz já teve que "abandonar o barco". Acontece... Vamo que vamo! ----- LFV Enviar para o Twitter

domingo, 12 de setembro de 2010

Amadores - Diário de Bordo - 4º Ensaio(09/09)


O ensaio foi marcado para as 20 horas, e ao chegar ao Espaço Cultural Atores em Cena, estavam presentes apenas o diretor Luiz Fernando, e os atores Rony e Giovana. Recebi a noticia de que Ana Luiza não viria e esperamos então a chegada de Jucelio, que ao chegar deu a noticia de que estaria abandonando o processo por motivos pessoais, o que nos deixou um misto de felicidade por ele e tristes pelo processo.

O diretor, em ímpeto, nos convocou a iniciarmos os trabalhos, propondo que o exercício deixado no ensaio anterior fosse executado. Como estavam presentes apenas o “Guilherme” e a “Leonora” fomos direto para a improvisação do 4º quadro do texto de “Amadores”. O diretor pediu apenas que Rony sentasse-se em pequeno banco e iniciassem.

O resto da noite prendeu-se apenas nas quatro primeiras falas do 4º quadro, tanta é a diversidade de intenções e interpretações existente em suas entrelinhas.
Luiz Fernando instigava a todo momento os atores a pensar nas circunstâncias de seus atos e nos “por quês” de suas intenções.

A mim, que filmava a tudo, ficou claro que estávamos diante de dois seres humanos muito profundos e simples ao mesmo tempo, simples seres humanos normais. Vi que os dois atores se enquadram no “perfil” se é que ele existe.

Observar as intenções propostas pelos atores me faz tentar fechar cenograficamente a cena e iluminar cenicamente suas ações, tarefa difícil, uma vez que ainda estamos engatinhando, mas já vejo um cenário, talvez não seja ele, mas já podemos sentar a equipe técnica e começar a esquadrinhar fisicamente os “Amadores”.

Em dado momento do ensaio o diretor pediu aos atores que tentassem dominar fisicamente um ao outro, e começaram uma verdadeira sessão de vale-tudo. Ao final do exercício o diretor falou que as intenções da cena tinham a ver com aquilo, os personagens sempre tentam dominar um ao outro, há um jogo o tempo todo. Pensando nisso os atores voltaram ao improviso, junto às instigações da direção, até que decidimos sentar em circulo e conversar a respeito do ensaio e da perda de um ator. Neste momento, tentando buscar na mente alguém que se enquadrasse no “perfil” de “Valter”, acabamos por perceber a imensa complexidade do personagem e responsabilidade que o ator vai ter que assumir por ter que carregar o espetáculo inteiro nas costas, uma vez que “Valter” é onisciente e onipresente na trama, e na proposta da encenação.

Com a responsabilidade de acharmos o nosso novo “paladino” encerramos o encontro.
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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Amadores - Diário de Bordo - 3º ensaio(07/09)

Por Giovana

O encontro começou pontualmente às 19h. Desta vez ficamos no Porão do Espaço Atores Em Cena e as atividades do dia foram iniciadas com um único exercício de alongamento (desenrolar da coluna até o chão) que se repetiu diversas vezes tendo seu grau de dificuldade aumentado progressivamente (a cada seqüência de repetição as pernas eram cada vez mais afastadas). Este exercício serviu para tornar ainda mais evidente a importância do preparo físico do ator para estar em cena e o quanto ainda temos que progredir neste quesito.
Durante o alongamento, Ana Luiza sentiu-se mal e precisou suspender a atividade. Roni também apresentava dores que limitavam seu desempenho físico.
No segundo momento do encontro passamos ao estudo do texto. Devido o caráter monótono com o qual nós atores conduzíamos a leitura, alguns exercícios foram propostos por Luiz: em duplas (meninas e meninos) conversamos destacando as vogais das palavras que íamos dizendo e depois as consoantes; demos seguimento à conversa andando pelo espaço, primeiro próximos de nossa dupla e depois afastados, ora de olhos fechados, ora sussurrando.
Retornamos a leitura do texto. Contudo, a leitura ainda se configurava enfadonha. Dessa forma, foi proposto que partíssemos logo para o exercício da cena. Neste momento experimentamos exageros e contenções, sem nos preocuparmos com a estruturação já definida da distribuição espacial de atores e objetos cênicos. Quando partimos para o exercício da cena, percebi que em alguns momentos consegui me conectar mais eficientemente a intenção do texto, e que eu e Roni em diversos instantes entramos em sintonia com o tempo dos personagens.
Durante a leitura e experimentação da cena, os atores trocaram de personagem em alguns momentos. Neste encontro, eu e Roni parecemos nos encaixar mais harmoniosamente nos personagens que havíamos lido no encontro anterior, Leonora e Guilherme.
O encontro se encerrou por volta das 23h. Enviar para o Twitter

terça-feira, 7 de setembro de 2010

AMADORES...

14/09/10


14/09/10

Fernando (14/09/10)

Kleber (14/09/10)
Luiza (14/09/10)
Giovana (14/09/10)
Willian (14/09/10)
Ricardo (14/09/10)
09/09/10

09/09/10

09/09/10

07/09/10
07/09/10
07/09/10
05/09/10
05/09/10
05/09/10
05/09/10
05/09/10
30/08/10
30/08/10
30/08/10
*Fotos de Kleber Farias Enviar para o Twitter

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Amadores - Diário de Bordo - 2º ensaio (05/09)

Por Rony Hofstatter

Domingo, 5 de setembro, 16:30. Segunda leitura do texto amadores. Alem de mim, Jucelio, Patusca, Giovana integrou o elenco. Pensei: Oba !!! faremos a leitura com os quatro personagens presentes. Luiz Fernando leu a voz elegante. Tudo começou numa boa, Jucelio alem de ler o Valter, também leu as indicações. O texto fluiu legal, Procurei dar alguma intenção ao Guilherme, ainda to “puxando ele”, construindo. Apesar de ser o primeiro contato de Giovana com o texto, ela o leu já com intenções, achei bem bacana. Ate agora (que maldade minha), o elenco tem se dado bem, assim como a direção também. Os personagens ainda estão soltos, como o Fernando mesmo disse, os personagens estão soltos, não tem dono. To gostando do processo ate agora, todos bem entrosados, o espaço para o ensaio é bem bacana. Gostei muito do texto, estou empolgado para ver como vai se desenvolver o espetáculo, espero sinceramente, que o elenco seja esse, e que consigamos fazer um ótimo trabalho. A leitura seguiu tranqüila, já percebi um pouco mais de intimidade com o texto. Depois da leitura, fomos para parte de traz da casa, conversar, discutir sobre o processo de criação. Achei tudo bem democrático, sem melindres, gosto disso, acho fundamental. Daí veio uma, duas, três, quatro garrafas de vinho, adoroooooooooooo!!!! Mas calma nada de porre ou algo assim, éramos sete bebendo, mais conversando que bebendo. Achei muito bacana, pois criou uma intimidade necessária ao grupo. Eram 7:30, resolvemos ir ver uma peça no IAP, Eutanasio. Fim do diário.
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