terça-feira, 26 de outubro de 2010

Amadores - Diário de bordo - 11º ensaio(25/10)

Por Patusca


Pela primeira vez, eu e Fernando tocaríamos na 5º cena, pra falar a verdade nós a tocamos. É a cena em que Carlota encontra com Válter antes de saber do problema do Guilherme. Eis que eu estava na marcação determinada por ele, quando o próprio vira para mim e pergunta:

L.F: Patusca há quanto tempo a Carlota não vê o Válter?

P: Milhões de anos.

L.F: Não. Precisamente. Me dá um tempo certo. Há quanto tempo a Carlota não vê o Válter?

P: Há um ano.

L.F: Um ano... Como foi que a Carlota foi parar aí? O que fez ela ir ao encontro do Válter? O que ele fez para convencê-la a ir?

P: Peraí. Um ano... Será que essa mulher iria mesmo querer encontrar com uma cara que ela não vê há um ano, assim do nada

E daí a cena que estávamos começando a marcar, mais uma vez foi discutida, e discutida, e discutida e discutida.

É o ego? Vaidade? Baixa auto-estima? O que leva essa mulher ao encontro de um homem que ela não vê há um ano? Simplesmente porque atendeu ao telefone quando estava no recesso de sua casa, perdida em mil devaneios do seu próprio drama.

E o que leva esse homem a tomar a atitude de buscar essa mulher somente agora? Ele esperou tanto tempo... E a concretização desse tempo inexorável, cruelmente representado num fio de cabelo branco, foi o que o moveu?

O processo de montagem realmente é um quebra cabeça que envolve corpo e alma, mas esse quebra cabeça não revela uma imagem já pronta, pelo contrário, além de montá-lo, temos que gradativamente colorir a figura a ser construída. Eu me sinto fazendo um mosaico, colando pecinha a pecinha para formar um retrato que ainda não sei como é; e o mais extraordinário é sentir que cada nova pecinha encaixada é uma descoberta que transcende a ficção, eu sempre reconheço ou descubro algo sobre mim mesma. E nisso vamos criando uma intimidade cada vez mais intensa com esses seres tão reais, tão possíveis e tão absurdamente humanos, o que realmente me faz crer que no fundo, no fundo da piscina somos tão amadores quanto os próprios.

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